Texto de Everton Rodrigues
Histoplasmose
A histoplamose é uma micose sistêmica que pode apresentar-se desde uma infecção assintomática até a forma disseminada, potencialmente fatal.
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O agente etiológico é o Histoplasma capsulatum, *fungo dimórfico que ocorre em climas temperados e tropicais, e é encontrado no solo, em locais ricos em fezes de aves e morcegos.
Enfermidade clínica é muito pouco freqüente e a forma progressiva grave é rara; entretanto, em áreas onde a infecção é prevalente, a hipersensibilidade à histoplasmina indica infecção prévia que pode chegar, às vezes, a 80% da população.
O Ceará é uma área de grande endemicidade da doença.
A porta de entrada para o fungo são as vias aéreas. A transmissão ocorre pela inalação de microconídios produzidos pela fase filamentosa do fungo (presentes no solo). Não existe transmissão inter-humana, nem contágio direto dos animais para o homem.
Assim que os microconídios alcançam os espaços alveolares, são fagocitados pelos macrófagos alveolares. Nesse momento, esses microconídios transformam-se em leveduras, as quais são capazes de crescer e se multiplicar dentro dos macrófagos em repouso. Ocorre então invasão dos linfonodos hilo-mediastinais e disseminação pela corrente sanguínea. Essa fungemia, geralmente, é assintomática, permitindo que o agente parasite todos os tecidos do sistema reticuloendotelial, a exemplo de pulmões, fígado, baço, linfonodos e estruturas linfáticas do tubo digestivo. A partir daí, a resposta tissular do hospedeiro contra a infecção vai determinar a extensão da doença.
É variável, geralmente de uma a três semanas.
Os fatores que influenciam as manifestações clínicas são: magnitude da exposição (número de partículas de fungo inaladas); estado imunológico do hospedeiro (linfócitos T CD4+ são os principais responsáveis pela destruição do fungo); virulência da cepa.
A Histoplasmose pode ser dividida nas seguintes formas clínicas: Histoplasmose no hospedeiro normal, dividida em primo-infecção assintomática e histoplasmose pulmonar aguda; Histoplasmose em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), correspondendo à Histoplasmose pulmonar crônica cavitária; Histoplasmose no hospedeiro imunocomprometido, correspondendo à Histoplasmose disseminada aguda, subaguda ou crônica; e doença mediada imunologicamente.
- Histoplasmose pulmonar aguda: corresponde à primo-infecção sintomática. Apresenta amplo espectro de manifestações clínicas, desde casos que simulam gripe até pneumopatias agudas graves, com insuficiência respiratória. Entre os sintomas apresentados estão: febre, mal estar, dor pleurítica, calafrios, anorexia, perda de peso, cefaléia, tosse, mialgia. Radiologicamente, observam-se infiltrados pulmonares intersticiais difusos, ou nódulos, com adenomegalia hilar e/ou mediastinal. Geralmente, essa forma clínica é auto-limitada, com involução do quadro em 1 a 3 meses.
- Histoplasmose pulmonar crônica cavitária: acomete, principalmente, homens acima de 50 anos com antecedentes de DPOC. O quadro clínico é idêntico à tuberculose avançada do adulto, e se caracteriza por: febre, tosse, dor torácica, dispnéia, perda de peso, fraqueza, mal estar, fadiga fácil.
- Histoplasmose disseminada: é uma grave infecção sistêmica que atinge hospedeiros com comprometimento da imunidade celular. Atualmente, AIDS é o principal fator de risco para o desenvolvimento da histoplasmose. Comumente, os pacientes apresentam uma contagem de linfócitos T CD4+ ≤ 75/mm³ (estão em estado de avançada imunossupressão). 95% dos pacientes com AIDS diagnosticados com histoplasmose têm doença disseminada. O quadro clínico se caracteriza por: febre, calafrios, adinamia, tosse, sudorese, perda de peso, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia.
- Doença mediada imunologicamente: Compreende o histoplasmoma, a fibrose mediastinal e a síndrome ocular vinculada à Histoplasmose. Representa uma resposta de hipersensibilidade do indivíduo à infecção, ligada à resposta imunológica do hospedeiro.
Anemia, leucopenia ou trombocitopenia (podendo chegar a ocorrer pancitopenia); anormalidade da função hepática; aumento da LDH (importante indicador laboratorial da doença).
Quando se suspeita de histoplasmose, deve solicitar culturas de material obtido do aspirado de medula óssea, sangue, escarro e material de lesões. Também pode-se realizar a biópsia de lesões (sejam cutâneas, linfonodais ou outras), sendo o diagnóstico pelo exame histopatológico. A pesquisa do creme leucocitário permite a visualização do fungo, mas esse exame tem baixa sensibilidade (cerca de 47%).
Na forma pulmonar aguda, leve a moderada, geralmente, o tratamento é desnecessário. Em pacientes que mantêm sintomatologia por mais de 1 mês, pode-se iniciar o Itraconazol, na dose de 200 a 400mg/dia, durante 6 a 12 semanas. Nas formas pulmonares agudas graves, está indicado o uso da Anfotericina B, na dose de 0,5 a 1mg/kg/dia, não ultrapassando 50mg/dia, durante 1 a 2 semanas, seguida de Itraconazol, na dose de ataque de 200mg, 3 vezes ao dia, durante 3 dias, e manutenção de 200mg, 2 vezes ao dia, durante 12 semanas. Nas formas cavitárias pulmonares crônicas, a recomendação é o uso do Itraconazol, 200mg, 3 vezes ao dia, durante 3 dias, seguido de 200 a 400mg por dia, por pelo menos 12 meses, devendo, no entanto, chegar a 18 ou 24 meses.
Fontes: Guia de bolso de doenças infecciosas e parasitárias – Ministério da Saúde 6ª edição revista: 2006. HARRISON – Medicina Interna 17ª edição: 2006