Fibrose Cística

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(Bárbara Ximenes Braz, fibrose cística, FC, CFTR, gene regulador da condutância transmembrana na FC, cloreto no suor, genética, infecção pulmonar, insuficiência pancreática exócrina)
 
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FIBROSE CÍSTICA
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Texto de ''Bárbara Ximenes Braz''
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Fibrose Cística é a doença autossômica recessiva letal mais comum na população caucasiana, com uma frequência de 1 em 2000 a 3000 nascimentos. Embora os primeiros sinais e sintomas ocorram inicialmente na infância, cerca de 5% dos pacientes norte-americanos são diagnosticados apenas na fase adulta. Atualmente, os avanços médicos possibilitaram que cerca de 41% dos pacientes atingissem a  idade adulta, a partir dos 18 anos, e 13%, a terceira década de vida. Os sinais e sintomas comumente presentes são:
 
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Infecções pulmonares de repetição, levando a bronquiectasia e bronquiolectasia.
 
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Disfunção pancreática exócrina.
 
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Disfunção intestinal.
 
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Anormalidades das funções das glândulas sudoríparas.
 
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Disfunção urogenital.
 
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Muitos pacientes, entretanto, apresentam sintomas mais leves ou atípicos, devendo-se estar atento para a possibilidade desse diagnóstico mesmo com apenas alguns sintomas presentes.
 
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PATOGENIA
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==Fibrose Cística==
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A Fibrose Cística é causada por mutações no gene que codifica a proteína reguladora da condutância transmembrânica da Fibrose Cística (RTFC). Essa proteína se comporta como um canal de Cl¯ regulado pelo AMPc e como um regulador de outros canais iônicos. Em indivíduos normais, encontra-se a proteína totalmente processada na membrana plasmática dos epitélios. Nas mutações de classes I e II, temos ausência de RTFC na membrana plasmátia, enquanto nas classes III e IV temos proteínas totalmente processadas, porém disfuncionais ou com atividade apenas parcial.
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Classe I: Síntese de proteína deficiente.
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Classe II: Processamento deficiente.
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Classe III: Regulação deficiente.
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Classe IV: Condução deficiente.
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Disfunção Epitelial: Todos os tecidos apresentam anormalidades na condução dos íons, porém a sua manifestação é variada a depender do local afetado. Os epitélios das vias respiratórias e do intestino distal absorvem volume, enquanto o ducto sudoríparo absorve sal, mas não volume, e o intestino proximal e o pâncreas secretam volume.
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==Etiologia==
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Distúrbio autossômico recessivo em que mutações no gene CFTR (regulador da condutância transmembrana na FC) causam alterações no transporte iônico epitelial.
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Tem maior incidência entre os norte-europeus, apesar de poder acometer todas as raças.
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==Patogenia==
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O CFTR é um canal de cloreto regulado por AMPc e regula outros canais iônicos, mantendo a hidratação das secreções dentro dos ductos  vias aéreas por meio do transporte de cloreto  da inibição da captação de sódio. Sua disfunção afeta diversos órgãos, especialmente os secretores de muco, como os tratos respiratórios superior e inferior, pâncreas, sistema biliar, genitália masculina, intestino e glândulas sudoríparas.
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No trato respiratório, as secreções desidratadas e viscosas, por interferir com a depuração mucociliar e inibir as funções dos peptídeos antimicrobianos, criam um meio suscetível à infecção e obstruem o fluxo de ar, além de iniciar uma reação inflamatória nos primeiros meses de vida. Infecções recorrentes, inflamação e destruição tecidual provocam redução da quantidade de tecido pulmonar funcional, levando à insuficiência respiratória.
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No pâncreas, há retenção de enzimas exócrinas desse órgão devido à perda de transporte de cloreto pelo CFTR no ducto pancreático, causando dano e fibrose pancreática.
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A captação de sódio e de cloreto do suor, à medida que se movimenta pelo ducto pancreático, é regulada pelo CFTR, e, em sua ausência funcional, o suor apresenta níveis aumentados de cloreto de sódio, sendo esta a base da “síndrome do bebê salgado” e do teste diagnóstico '''(cloreto no suor).'''
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==Fenótipo e História Natural==
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A FC clássica manifesta-se no início da infância, mas 4% dos pacientes são diagnosticados na vida adulta.
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15 a 20% dos pacientes apresentam íleo meconial ao nascimento, e os demais apresentam queixas respiratórias crônicas, como rinite, sinusite e doença pulmonar obstrutiva, ou déficit de crescimento, resultante de combinação de consumo aumentado devido às infecções pulmonares crônicas e subnutrição devido à insuficiência pancreática exócrina, ou ainda ambos, mais tarde na vida.
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5 a 15% não desenvolvem insuficiência pancreática exócrina.
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Mais de 95% dos pacientes do sexo masculino desenvolvem azospermia ausência bilateral congênita dos ductos deferentes.
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O principal determinante de morbidade a mortalidade é o acometimento pulmonar, e a maioria dos pacientes morre de insuficiência respiratória e falência ventricular direita secundária à destruição do parênquima pulmonar e a cor pulmonale, sendo a sobrevida média atual, na América do Norte, de 33 anos. Fatores ambientais, como exposição à fumaça de cigarro, pioram significativamente a gravidade do quadro pulmonar.
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==Diagnóstico e Risco de Herança==
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O diagnóstico de FC baseia-se em critérios clínicos e na concentração de cloreto no suor, que pode trazer resultados normais em 1 a 2% dos pacientes, os quais se diagnostica com uma medida anormal da diferença de potencial transepitelial nasal.
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O diagnóstico pré-natal é baseado na identificação de mutações em CFTR no DNA de tecidos fetais, como vilosidades coriônicas ou amniócitos. A eficiência da identificação normalmente erequer que as mutações responsáveis por FC em uma família já tenham sido identificadas.
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O risco de um casal TR um filho com FC varia de acordo com a freqüência m seus grupos étnicos. Para casais que já possuem um filho com FC, o risco de que um novo filho também tenha a doença é de 1 em 4.
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==Tratamento==
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Não há tratamentos curativos para FC atualmente, mas os tratamentos sintomáticos aumentaram a longevidade média para a faixa etária de 30 a 40 anos. A terapia objetiva a depuração das secreções pulmonares, o controle da infecção pulmonar, a reposição da enzima pancreática, nutrição adequada e prevenção de obstrução intestinal. A maioria dos pacientes também necessita de orientação psicológica para lidar com a doença.
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A terapia retarda a progressão da doença pulmonar, porém o único tratamento definitivo é o transplante de pulmão.
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A má-absorção pode ser tratada de forma eficaz com reposição de enzima pancreática e suplementação das vitaminas lipossolúveis. Muitos pacientes também necessitam de suplementos calóricos.
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''Fonte:'' Thompson & Thompson, Genética Médica. 1ª edição.

Edição atual tal como 04h34min de 6 de Setembro de 2012

Texto de Bárbara Ximenes Braz


Tabela de conteúdo

Fibrose Cística

Etiologia

Distúrbio autossômico recessivo em que mutações no gene CFTR (regulador da condutância transmembrana na FC) causam alterações no transporte iônico epitelial.

Tem maior incidência entre os norte-europeus, apesar de poder acometer todas as raças.


Patogenia

O CFTR é um canal de cloreto regulado por AMPc e regula outros canais iônicos, mantendo a hidratação das secreções dentro dos ductos vias aéreas por meio do transporte de cloreto da inibição da captação de sódio. Sua disfunção afeta diversos órgãos, especialmente os secretores de muco, como os tratos respiratórios superior e inferior, pâncreas, sistema biliar, genitália masculina, intestino e glândulas sudoríparas.

No trato respiratório, as secreções desidratadas e viscosas, por interferir com a depuração mucociliar e inibir as funções dos peptídeos antimicrobianos, criam um meio suscetível à infecção e obstruem o fluxo de ar, além de iniciar uma reação inflamatória nos primeiros meses de vida. Infecções recorrentes, inflamação e destruição tecidual provocam redução da quantidade de tecido pulmonar funcional, levando à insuficiência respiratória.

No pâncreas, há retenção de enzimas exócrinas desse órgão devido à perda de transporte de cloreto pelo CFTR no ducto pancreático, causando dano e fibrose pancreática.

A captação de sódio e de cloreto do suor, à medida que se movimenta pelo ducto pancreático, é regulada pelo CFTR, e, em sua ausência funcional, o suor apresenta níveis aumentados de cloreto de sódio, sendo esta a base da “síndrome do bebê salgado” e do teste diagnóstico (cloreto no suor).


Fenótipo e História Natural

A FC clássica manifesta-se no início da infância, mas 4% dos pacientes são diagnosticados na vida adulta.

15 a 20% dos pacientes apresentam íleo meconial ao nascimento, e os demais apresentam queixas respiratórias crônicas, como rinite, sinusite e doença pulmonar obstrutiva, ou déficit de crescimento, resultante de combinação de consumo aumentado devido às infecções pulmonares crônicas e subnutrição devido à insuficiência pancreática exócrina, ou ainda ambos, mais tarde na vida.

5 a 15% não desenvolvem insuficiência pancreática exócrina.

Mais de 95% dos pacientes do sexo masculino desenvolvem azospermia ausência bilateral congênita dos ductos deferentes.

O principal determinante de morbidade a mortalidade é o acometimento pulmonar, e a maioria dos pacientes morre de insuficiência respiratória e falência ventricular direita secundária à destruição do parênquima pulmonar e a cor pulmonale, sendo a sobrevida média atual, na América do Norte, de 33 anos. Fatores ambientais, como exposição à fumaça de cigarro, pioram significativamente a gravidade do quadro pulmonar.


Diagnóstico e Risco de Herança

O diagnóstico de FC baseia-se em critérios clínicos e na concentração de cloreto no suor, que pode trazer resultados normais em 1 a 2% dos pacientes, os quais se diagnostica com uma medida anormal da diferença de potencial transepitelial nasal.

O diagnóstico pré-natal é baseado na identificação de mutações em CFTR no DNA de tecidos fetais, como vilosidades coriônicas ou amniócitos. A eficiência da identificação normalmente erequer que as mutações responsáveis por FC em uma família já tenham sido identificadas.

O risco de um casal TR um filho com FC varia de acordo com a freqüência m seus grupos étnicos. Para casais que já possuem um filho com FC, o risco de que um novo filho também tenha a doença é de 1 em 4.


Tratamento

Não há tratamentos curativos para FC atualmente, mas os tratamentos sintomáticos aumentaram a longevidade média para a faixa etária de 30 a 40 anos. A terapia objetiva a depuração das secreções pulmonares, o controle da infecção pulmonar, a reposição da enzima pancreática, nutrição adequada e prevenção de obstrução intestinal. A maioria dos pacientes também necessita de orientação psicológica para lidar com a doença.

A terapia retarda a progressão da doença pulmonar, porém o único tratamento definitivo é o transplante de pulmão.

A má-absorção pode ser tratada de forma eficaz com reposição de enzima pancreática e suplementação das vitaminas lipossolúveis. Muitos pacientes também necessitam de suplementos calóricos.


Fonte: Thompson & Thompson, Genética Médica. 1ª edição.

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