Manifestações Hematológicas na Infecção pelo HIV

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Edição feita às 15h19min de 2 de Maio de 2011 por Everton (Discussão | contribs)

Texto de Everton Rodrigues

Manifestações Hematológicas da Infecção pelo HIV


Os pacientes infectados pelo HIV apresentam freqüentemente alterações hematológicas, especialmente as citopenias (anemia; leucopenia – em geral, neutropenia; trombocitopenia), as quais podem ser isoladas ou combinadas, e podem ter múltiplas etiologias.

As citopenias podem ser explicadas pelos seguintes mecanismos: ação direta do HIV (evidências demonstram que o vírus infecta as células progenitoras da medula óssea e as células-tronco hematopoiéticas) e de proteínas virais (gp 120, gp 160, tat, provocando diminuição da produção de unidades formadoras de colônias); ação de fatores imunes e de citocinas (TNF-α, INF-gama) sobre a medula óssea; efeitos colaterais de medicamentos (antirretrovirais, drogas utilizadas para tratamento das complicações infecciosas e neoplásicas da doença).

Tabela de conteúdo

Anemia

É a citopenia mais freqüente (pode estar presente em até 90% dos pacientes HIV positivos), estando associada a uma maior taxa de mortalidade (independente da contagem de linfócitos T CD4+ e da carga viral) e maior risco de progressão para AIDS (principalmente com níveis de Hb < 8).

Geralmente, a anemia é multifatorial na infecção pelo HIV, incluindo causas como infecções oportunistas, drogas mielossupressivas, deficiências nutricionais e efeitos diretos do HIV sobre a medula óssea (células progenitoras e estromais).

Podemos dividir as causas da anemia em: causas que levam à diminuição da produção de hemácias/hemoglobina; causas que levam ao excesso da destruição de hemácias ou à perda de sangue; causas de hiperesplenismo.


Causas que levam à diminuição de produção

• Anemia de doença crônica

• Drogas mielossupressoras

• Infiltração da medula (neoplasias, infecções)

• Deficiências (eritropoetina, ferro, folato, vitamina B12)


Anemia de doença crônica

É uma anemia secundária a ativação imune, podendo ser causada por infecções crônicas, doenças auto-imunes, neoplasias. Ocorre a produção de citocinas inflamatórias (TNF-α, IL-1, IFN-gama), que atuam sobre o fígado estimulando a síntese de hepcidina, molécula que diminui a absorção intestinal de ferro e aumenta a captação e retenção de ferro no interior dos macrófagos (sistema reticuloendotelial), levando à hipoferremia (baixos níveis séricos de ferro). Além disso, as citocinas IL-1 e TNF-α inibem a produção de eritropoetina (EPO) e a responsividade dos precursores eritróides à eritropoetina (EPO).

A anemia de doença crônica deve ser tratada com altas doses de EPO, instituição de HAART (terapia antirretroviral de alta eficácia) e correção das deficiências vitamínicas.

Drogas mielossupressoras

Certas drogas atuam sobre a medula óssea, causando mielossupressão. As principais são: zidovudina (AZT) – causa anemia macrocítica dose-dependente; sulfametoxazol-trimetropim; anfotericina B; ganciclovir; dapsona.

Infiltração medular

A diminuição da produção de hemácias/hemoglobina pode ser causada pela infiltração da medula óssea por agentes infecciosos ou neoplasias. Entre os microrganismos que causam mais comumente essa infiltração, podemos citar: Leishmania chagasi (Calazar), Histoplasma capsulatum (histoplasmose disseminada), Mycobacterium tuberculosis (tuberculose disseminada), Mycobacterium avium (MAC), Parvovírus B19 (causa aplasia pura da série vermelha através da ligação do vírus ao antígeno P do grupo sanguíneo; devido ao estado de imunodepressão, o indivíduo não produz anticorpos neutralizantes do parvovírus, ocorrendo então uma intensa replicação viral no interior dos precursores eritróides, o que leva a uma anemia profunda e crônica). A principal neoplasia em pacientes infectados pelo HIV que infiltra a medula é o linfoma não-Hodgkin.

Causas que levam ao excesso de destruição ou perda

• Hemólise (PTT, anemia hemolítica auto-imune)

• Drogas (ceftriaxone, indinavir): induzem hemólise por alguns mecanismo, como o da imunidade cruzada (anticorpos produzidos contra as drogas acabam se ligando às hemácias, por similaridade de certas regiões entre as moléculas, levando à anemia hemolítica)

• Infecção (CMV)

• Hemorragia do TGI (linfoma não-Hogkin; sarcoma de Kaposi no TGI; infecção, p.ex. CMV)


Púrpura trombocitopênica trombótica (PTT)

É uma entidade clínica causada pela deficiência quantitativa ou qualitativa da protease que cliva os multímeros do fator de Von Willebrand (a ADAMTS13). Como conseqüência, ocorre oclusão difusa de arteríolas e capilares da microcirculação. O HIV contribui para que ocorra PTT tanto pela disfunção imune (produção de anticorpos anti-ADAMTS13), como pela infecção direta das células endoteliais, gerando disfunção endotelial (com liberação desordenada do fator de Von Willebrand).

A PTT ocorria em 1,4% dos pacintes com AIDS na era pré-HAART (é, portanto, de ocorrência rara). Quadro clínico (péntade): anemia hemolítica microangiopática + plaquetopenia + insuficiência renal + febre + sinais neurológicos.

O tratamento é feito com plasmaférese.

Causas de hiperesplenismo

• Infecção

• Linfoma não-Hodgkin

• Cirrose hepática

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