Micoses Superficiais, Cutâneas e Subcutâneas

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Texto por Sarah Leal

Micoses Superficiais, Cutâneas e Subcutâneas


As micoses podem ser divididas em: - Micoses superficiais: limitadas às camadas mais externas da pele e do cabelo. - Micoses cutâneas: envolvem as camadas mais profundas da epiderme e seus tegumentos, o cabelo e as unhas. - Micoses subcutâneas: envolvem derme, tecidos subcutâneos, músculo e fáscia.



Tabela de conteúdo

Micoses Superficiais

Suscitam pouca ou nenhuma resposta imune do hospedeiro, não sendo combatidas por ele. Assim, são assintomáticas, de maneira que interessam mais à área de cosméticos. São fáceis de diagnosticar e tratar.


1) Ptiríase Versicolor (Malassezia furfur)

Os fungos causadores são leveduras lipofílicas, que se alimentam do sebo presente na pele. As células leveduriformes podem ser misturadas com hifas curtas e ocasionalmente ramificadas. Acontece principalmente em regiões tropicais e subtropicais. Acomete principalmente adultos jovens. É transmitida através de transferência direta ou indireta do material queratínico infectado de uma pessoa para outra. As lesões são pequenas máculas hipo ou hiperpigmentadas, assintomáticas, localizadas principalmente na parte superior do tronco, braços, tórax, ombros, face e pescoço. As lesões são irregulares, com manchas bem demarcadas de descoloração, as quais podem surgir e ser cobertas por uma escama fina. Em pessoas de pele negra, as lesão têm aspecto mais branco, enquanto que em pessoas de pele mais claro o aspecto das lesões é castanho-claro ou rosado. As lesões fluorescem com uma cor amarelada quando expostas à “lâmpada de Wood”, o que é uma forma de diagnóstico laboratorial. No entanto, isso pode não acontecer se o tratamento já se houver iniciado. Normalmente é uma doença crônica e persistente. Tratamento: azóis tópicos ou shampoo com sulfeto de selênio. Para infecção mais disseminada, usa-se cetoconazol ou fluconazol por via oral.


2) Tinea Nigra (Hortaea wernickii)

Feoifomicose superficial causada por fungo negro. Composto por hifa demaciácea muitas vezes ramificada. Artroconídios e células alongadas com brotamento também podem estar presentes. Acontece em região tropical ou subtropical, sendo mais prevalente na Ásia, África e América do Sul. É contraída por inoculação traumática do fungo nas camadas superficiais da epiderme.

As crianças e os adultos jovens são os mais afetados, principalmente os do sexo feminino. 

Caracteriza-se por mácula solitária, irregular, pigmentada (de cor castanha a negra), geralmente na palma das mãos ou sola do s pés. Não escamação ou invasão dos folículos pilosos e a doença não é contagiosa. É importante fazer o diagnóstico diferencial dessa micose, pois pode parecer grosseiramente com um melanoma maligno. O tratamento é tópico (pomada de Whtfield, cremes azóis e terbinafina).


3) Piedra Branca (gênero Trichosporon – T. inkin, T. asahii, T. beigelli, T. mucoides)

São fungos leveduriformes que causam infecção superficial do pêlo. Apresenta, hifas, artroconídios e blastoconídios. Acontece principalmente em regiões tropicias e subtropicais, estando relacionada a condições de falta de higiene. Acomete os pêlos das regiões axilares e da virilha. O fungo cresce em torno da haste do pêlo e forma um nódulo branco a castanho ao longo dos fios de cabelo. Os nódulos são macios e pastosos, podendo ser facilmente removidos quando puxados em direção à ponta do fio pelo polegar e dedo indicador. Não danifica a haste do pêlo. Tratamento: higiene e depilação dos pêlos afetados; azóis tópicos.


4) Piedra Negra (Piedraia hortae)

Causada por um bolor pigmantado (castanho a negro avermelhado). Afeta os pêlos principalmente do couro cabeludo e é assintomática. Não é uma micose muito comum e relaciona-se à falta de higiene, acontecendo principalmente na América Latina e África Central. É caracterizada pela presença de pequenos nódulos negros que ficam em torno da haste do pêlo. Tratamento: corte de cabelo e lavagens regulares apropriadas.


Micoses Cutâneas

1)Dermatofitoses (Trichophyton, Epidermophyton, Microsporium)

São fungos queratinofílicos e queratinolíticos, sendo capazes de destruir as superfícies queratinosas de pele, pêlo e unhas. Nas biópsias cutâneas, todos os dermatófitos são morfologicamente similares e aparecem com hifas septadas hialinas, cadeias de artroconídios ou cadeias dissociadas de artroconídios. Os dermatófitos podem ser geofílicos (vivem no solo, patógenos ocasionais), zoofílicos (parasitam o pêlo e a pele de animais, infectam, humanos) ou antropofílicos (infectam humanos e são transmitidos direta ou indiretamente de pessoa a pessoa). Os fungos geofílicos e zoofílicos causam reação profunda no hospedeiro, com lesões altamente inflamatórias, mas que respondem bem à terapia. Já as infecções antropofílicas, são não-inflamatórias, crônicas e difíceis de curar. Invadem o extrato córneo (camada superior e mais externa da epiderme). As dermatofitoses são referidas com “tineas”.Os sinais e sintomas clínicos variam de acordo com os agentes etiológicos, a reação do hospedeiro e o local da infecção. O padrão clássico das dermatofitoses envolve um anel de descamação inflamatória com diminuição da inflamação em direção ao centro da lesão. Em áreas cobertas por pêlos aparecem manchas circulares elevadas de alopecia, com eritema e escamação, ou como pápulas, pústulas, vesículas e quérions (inflamação grave envolvendo a base do pêlo). Em pele lisa aparecem eritema e manchas escamosas que se expandem centripetamente, apresentando clareamento central. Pode acontecer também a infecção das unhas (onicomicose) pelos mesmos fungos causadores da infecção na pele. O tratamento para as dermatofitoses é tópico ou oral, sendo, no entanto, principalmente oral.


2) Onicomicose por fungos não-dermatofíticos (Scopulariopsis brevicaulis, Scytalidium spp., Candida spp. etc)

A remoção cirúrgica parcial das unhas infectadas, mais tratamento com itroconazol ou terbinafina via oral são recomendados nesses casos.


Micoses Subcutâneas

Podem ser introduzidas de forma traumática através da pele. Podem envolver camadas mais profundas da derme, do tecido subcutâneo e do osso, mas não costumam se disseminar para órgãos distantes. O curso clínico mostra-se crônico e insidioso. Os agentes causais são, muitas vezes, de baixo potencial patogênico e são comumente isolados do solo, da madeira e de vegetação em decomposição, o que justifica a comum exposição de forma ocupacional ou relacionada a passatempos.


1)Esporotricose Linfocutânea (Sporothrix schenkii)

Fungo dimórfico, encontrado no solo e na vegetação em decomposição, quem causa infecção crônica. Acontece predominantemente em locais de clima quente e está relacionada ao trabalho em florestas, mineração e jardinagem. O fungo entra no hospedeiro após inoculação traumática dos materiais normalmente contaminados. Caracteriza-se por lesões nodulares e ulcerativas junto aos linfáticos que drenam o sítio primário de inoculação. O tratamento é feito com iodeto de potássio via oral em solução saturada ou com itraconazol.


2) Cromoblastomicose (Fonsecaea, Cladosporium, Exophiala, Cladophialophora, Chialophora)

Também conhecida como cromomicose, é uma infecção fúngica crônica, envolvendo pele e subcutâneos, caracterizada pelo desenvolvimento de nódulos ou de placas verrucosas de crescimento lento. Os fungos são pigmentados (demaciáceos) e penetram por inoculação direta com solo infectado ou matéria orgânica. As lesões iniciais, como já mencionado, são pequenas pápulas verrucosas e, em geral, aumentam de tamanho lentamente. Podem apresentar-se também na forma de placas. Quando bem estabelecida, as lesões aparecem como crescimentos verrucosos múltiplos e grandes, com aspecto de couve-flor. São hiperceratóticas e deixam o membro distorcido, devido à fibrose e ao linfoedema secundário.

A reação inflamatória é supurativa e granulomatosa, com fibrose dérmica e hiperplasia pseudoepiteliomatosa.

O tratamento com terapia antifúngica específica muitas vezes não apresenta resultado, se a infecção já estiver em estágio avançado. O itraconazol e a terbinafina parecem ser mais eficazes e podem ser combinados com flucitosina em casos refratátios.


3) Micetoma Eumicótico (Acremonium, Fusarium, Madurella, Exophiala, Scedosporium).

Acontece devido à implantação percutânea traumática do agente e não é uma doença contagiosa. É um processo infeccioso, crônico e granulomatoso. É caracterizado pela formação de múltiplos granulomas e abscessos que contêm grandes agregados de hifas fúngicas conhecidas como grânulos ou grãos. Os abscessos drenam-se externamente, em sua maioria. O processo pode ser bastante extenso e deformante, com a destruição de músculo, fáscia e osso. As lesões aparecem principalmente em mãos e pés, mas também existem nas costas, ombros e parede torácica. A lesão inicial parece um nódulo ou uma placa subcutânea pequena e indolor que aumenta lenta, mas progressivamente, de tamanho. Acontece desfiguração devido à inflamação crônica e à fibrose. Pode ocorrer destruição do músculo e do osso. Com o tempo, os tratos sinusais aparecem sobre a superfície da pele e drenam um líquido serossanguinolento que, muitas vezes, pode apresentar grânulos visíveis. O diagnóstico de baseia na distinção dos grãos ou grânulos e o tratamento muitas vezes não é efetivo, sendo necessária a amputação. Deve-se diferenciar o micetoma eumicótico do micetoma actinomicótico, pois o último goza de terapia efetiva.


4) Zigomicose Subcutânea (Conidiobolus coronatus, Basidiobolus ranarum)

Ocorre devido à implantação traumática e se desenvolve resposta inflamatória granulomatosa e rica em eosinófilos. O Conidiobolus coronatusestá mais relacionado a infecções na face de adultos (seios paranasais e tecidos moles), devido à inalação do fungo. O paciente apresenta área rinofacial acometida, com tumefação da parte superior do lábio ou face, firme e indolor. Pode ocorrer deformidade facial dramática, sendo até necessária cirurgia reconstrutiva devido à fibrose. Já o Basidiobolus ranarum acomete principalmente os membros proximais de crianças. Os paciente apresentam massas discóides, flexíveis e móveis que podem ser bastante grandes e localizam-se no ombro, na pelve, nos quadris e nas coxas. Eventualmente, as massas podem expandir-se e ulcerar-se.


5) Feoifomicose Subcutânea (Exophiala jeanselmei, Wangiella dermatitidis, Bipolaris spp.)

Pode ser causada por umagrandevariedade de fungos e é um termo utilizado para descrever uma ordem heterogênea de infecções fúngicas. Pode aparecer no formata de infecção superficial, subcutânea, invasiva ou disseminada. Contrai-se por inoculação traumática. Apresenta-se sob a forma de um cisto inflamatório solitário, com cápsula fibrosa, reação granulomatosa e necrose central. As lesões são firmes ou flutuantes, em geral indolores. Podem ocorrer placas pigmentadas endurecidas. Acomete pricipalmente pés e pernas. O tratamento é feito principalmente através de recisão cirúrgica.



Bibliografia: Microbiologia Médica / Patrick Murray, Ken S. Rosenthal, Michael A. Pfaller; tradução de Cláudia Adelino Espanha... [et al] - Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. 5ª edição

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