Diarréia

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Texto de Danni Wanderson

Diarréia


O termo diarréia pode ser definido como a eliminação de fezes amolecidas, de consistência líquida, fenômeno que geralmente vem acompanhado do aumento do número de evacuações diárias e do aumento da massa fecal diária (acima de 200mg/dia). Ela ocorre quando o balanço entre absorção e secreção de fluidos pelos intestinos (delgado e/ou cólon) está prejudicada, por redução da absorção e/ou aumento da secreção.

Tabela de conteúdo

Classificação

A diarréia pode ser classificada quanto ao tempo de duração em: 1- Diarreia aguda (até 2 semanas) 2- Diarreia protraída ou persistente (entre 2-4 semanas) 3- Diarreia crónica (> 4 semanas)

É relevante também diferenciar se a diarréia é de origem "alta"(proveniente do intestino delgado) ou "baixa"(oriunda do cólon).As diarréias de grande volume, sem muco, pus ou sangue, sem tenesmo e com restos alimentares caracterizam a diarréia alta enquanto diarréias de pequena quantidade, com a presença de muco, pus ou sangue, tenesmo, sem restos alimentares, devem ser caracterizadas como baixa.

Uma das mais importantes classificações se baseia no mecanismo fisiopatológico, sendo dividida em 5 grupos:

1) Diarreia osmótica: Existe alguma substância osmoticamente ativa e nãoabsorvível (ex.: sorbitol, lactulose, lactose na deficiênciade lactase etc).

2) Diarreia secretória não-invasiva: Algum fator, geralmente uma toxina ou alguma substância neuro-hormonal, está estimulando fortemente a secreção do epitélio intestinal.

3) Esteatorréia (síndrome disabsortiva): Acompanha a má-absorção de lipídios e sempre tem origem no intestino delgado. O mecanismo da diarreia inclui o mecanismo osmótico (má-absorção de nutrientes osmoticamente ativos). Vale ressaltar que nem toda a esteatorréia (aumento da eliminação fecal de gordura) cursa com diarreia...

4) Diarreia invasiva ou inflamatória: Decorrente da liberação de citoquinas e mediadores inflamatórios na mucosa intestinal (enterite, colite ou êntero-colite). O marco deste tipo de diarreia é a presença de muco, pus ou sangue nas fezes e pode ser chamada de disenteria. Pode ser infecciosa ou não-infecciosa (ex.: doença inflamatória intestinal).

5) Diarreia funcional: Causada pela hipermotilidade intestinal. Os principais exemplos são a síndrome do intestino irritável (pseudo-diarréia) e a diarreia diabética (neuropatia autonômica).

Causas Comuns

As doenças diarréicas podem ser agrupadas em várias categorias gerais.

INFECCIOSAS

   * vírus
         o rotavírus
         o citomegalovírus (CMV)
         o adenovírus
         o ecovírus
         o vírus HIV (veja doença por HIV)


   * bactérias
         o Shigella
         o Salmonella
         o cólera
         o E. coli
         o Staphylococcus aureus


   * parasitas
         o Giardia lamblia
         o Cryptosporidium parvum
         o Balantidium coli
         o ocasionalmente infestação por lombriga (ascaríase) ou solitária (cestodíase)


   * fungos
         o Candida albicans (em indivíduos imunodeprimidos)

TÓXICAS: Com freqüência, são chamadas de "intoxicação alimentar". As toxinas podem ser produzidas em alimentos, à medida que as bactérias crescem. Essas toxinas são responsáveis pelos vômitos e diarréia associados. A toxina mais comum é uma enterotoxina, produzida por Staphylococcus sp.

MÁ ABSORÇÃO

   * intolerância à lactose
   * doença celíaca (espru) ou má absorção do glúten.
   * fibrose cística
   * má absorção de dissacarídeos
   * intolerância à proteína do leite de vaca.

Existem outras causas menos freqüentes de má absorção.

DOENÇAS INFLAMATÓRIAS DO INTESTINO

   * doença de Crohn
   * colite ulcerativa

IMUNODEFICIÊNCIA

   * imunodeficiência combinada grave
   * hipogamaglobulinemia
   * pan-hipogamaglobulinemia (Bruton)
   * doença granulomatosa crônica
   * deficiência de IgA

MEDICAMENTOS

   * antibióticos
   * quimioterapia

CERTOS TRATAMENTOS

   * gastrectomia
   * gastroenterostomia
   * radioterapia com doses elevadas

OUTROS

   * síndrome de Zollinger-Ellison
   * neuropatia anatômica (neuropatia diabética)

Diagnóstico

O diagnóstico de diarréia não apresenta, em geral, dificuldades: o próprio paciente o firma corretamente. Ao médico caberá:

1. confirmar o diagnóstico, certificando-se de que a diarréia relatada é real, e não apenas a passagem freqüente de fezes formadas;

2. avaliar a gravidade, com atenção para:

- volume das perdas;

- estado de hidratação;

- presença de febre;

- presença de hematoquesia ( sangue nas fezes);

- presença e características de dor abdominal;

- envolvimento simultâneo de outros órgãos ou sistemas;

3. esclarecer se o comprometimento é de segmentos distais (evacuações são muito freqüentes, com sangue vivo, urgência ou tenesmo) ou proximais (evacuações em pequeno número, volumosas) do tubo digestivo;

4. obter evidência sobre a etiopatogenia (infecciosa, por toxina pré-formada, iatrogênica, etc).

Exames Complementares

Diarréia Aguda

  • Fezes

Pesquisa de leucócitos; Parasitas/ovos; cultura; Pesquisa da toxina do Clostridium difficile.

  • Sangue

Hemograma Completo; Eletrólitos; Uréia/Creatinina; Hemocultura.

  • Retossigmoidoscopia
  • Radiografia simples do abdome

Diarréia Crônica

  • Protoparasitológico

- Para pesquisa de ovos leves e pesados, assim como presença de larvas.

  • Coprocultura
  • Retossigmoidoscopia/biópsia
  • Enema opaco
  • Colonoscopia


Fontes: Bensenor, Isabela M.; Martins, Milton de Arruda; Atta, José Antonio/SARVIER - Semiologia Clínica

Harrison- Medicina Interna/MC GRAW HILL - 17ª Ed. 2009

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