Leptospirose

De WikiPETia Medica

Danni Wanderson Nobre Chagas


Leptospirose


A leptospirose é uma doença febril aguda causada por espiroquetas patogênicas do gênero Leptospira.


Tabela de conteúdo

Introdução

A leptospirose é uma das principais zoonoses do nosso meio. Esta afecção pode ser manifestada de várias formas, passando desde uma infecção inaparente até uma forma grave e potencialmente fatal como no caso da forma íctero-hemorrágica (doença de Weil). Chama atenção a correlação dos surtos de leptospirose com a estação chuvosa, pois as enchentes facilitam o contágio.

Etiologia

As leptospiras são bactérias gram-negativas finas, espiraladas e móveis cuja extremidade é em formato de gancho. Esses seres são aeróbios estritos e podem permanecer viáveis em solo úmido ou na água por semanas a meses, mas precisam de um hospedeiro animal para manter o seu ciclo vital.

As espécies de Leptospiras podem ser divididas em patogênicas, não patogênicas e de patogenicidade indeterminada. Dentre as patogênicas encontramos a L. interrogans, causadora da leptospirose. A invasão do corpo se dar por penetração ativa através de lesões cutâneas ou pelas mucosas oral, farígea e ocular.

Epidemiologia

O principal reservatório animal das leptospiroses é o rato, pois ele pode permanecer eliminando o microorganismo na urina por toda a vida.

A transmissão pode ocorrer de diversas formas como contato direto com urina, sangue, tecidos de animais infectados ou exposição à ambiente contaminado; ingestão de alimento ou água contaminados; inalação de gotículas contaminadas e etc. Vale ressaltar a importância da água na transmissão pois a maior parte das contaminações ocorre através dela, esse fato justifica o aumento de casos nos períodos mais chuvosos do ano.

É observada a relação de certos grupos profissionais com o maior risco de contágio. Trabalhadores de abatedouros, trabalhadores de rede de esgoto, estivadores e lavradores estão entre os grupos de maior risco. Atividades recreacionais que envolvam contato com água ou solo possivelmente contaminados também aumentam a possibilidade de aquisição da doença.

Apresentação Clínica

A forma anictérica que ocorre em 90% a 95% dos casos assemelha-se a uma gripe, apresentando normalmente como uma síndrome febril e alguns sintomas constitucionais. Sua apresentação ocorre, caracteristicamente, em duas fases:

• Fase septicêmica – Essa fase dura por volta de 4 a 7 dias e tem como principais sintomas a febre remitente, cefaléia, mialgias (especialmente nas panturrilhas), anorexia náuseas e vômitos. Em uma semana a febre regride espontânea e gradualmente.

• Fase imune – O indivíduo volta a apresentar febre, dessa vez de menor intensidade. Pode haver cefaléia intensa, sinais de irritação meníngea, miocardite, hemorragia ocula, exantemas maculares, maculopapulares, urticariformes, petéquias e outros sintomas. Complicações como uveítes e a meningite asséptica podem ocorrer devido a fenômenos de hipersensibilidade ocasionados pela doença.

A forma ictero-hemorrágica (Doença de Weil), a forma grave da doença, ocorre em 5% a 10% dos casos e é caracterizada pela tríade: icterícia, IRA e sangramento. O início da apresentação da doença é idêntico ao da fase lepitospirêmica, dessa vez, porém, não existe mais o comportamento bifásico da febre que pode persistir, piorar ou diminuir. A hepatomegalia e o aumento do VHS, podendo ultrapassar 90 mm/h, são característicos desta forma de leptospirose. A mortalidade varia de 5 a 40%.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito associando-se as manifestações clinicas a exames laboratoriais específicos como a cultura da L. interrogans e os exames sorológicos.

O agente da leptospirose pode ser isolado do sangue ou do líquor na fase de leptospiremia (primeira semana). As sorologias são testes que positivam a partir da fase imune da doença (segunda semana em diante), quando os anticorpos aparecem no soro do paciente. Os principais métodos usados são: Macroaglutinação, Microaglutinação (padrão-ouro), hemaglutinação indireta e ELISA.

Tratamento

O tratamento da leptospirose visa, principalmente, a redução da intensidade e duração dos sintomas e a redução da morbimortalidade da forma grave (Doença de Weil).

Deve-se iniciar o tratamento o quanto antes, se possível ainda na fase de leptospiremia. A droga de escolha é a Penicilina cristalina (adultos: 6 a 12 milhões de unidades/dia, 7 a 10 dias; crianças: 50.000 a 100.000 unidades/kg/dia, pelo mesmo período). Ampicilina,tetraciclina e doxiciclina são drogas alternativas.

Em pacientes alérgicos ou com lesão renal e icterícia, sugere-se o uso do cloranfenicol. Vale lembrar que a Tetraciclina e a Doxiciclina são contra-indicadas em gestantes, menores de 9 anos e pacientes com insuficiência renal aguda ou insuficiência hepática.

A terapia de suporte, composta entre outras coisas por reposição hidreletrolítica, assistência cardiorrespiratória, transfusões de sangue e derivados, nutrição enteral ou parenteral e proteção gástrica, são fundamentais nos casos de Doença de Weil.

Quando há insuficiência renal, a diálise peritoneal precoce reduz o dano renal e a letalidade da doença. A hemodiálise aumenta o risco de sangramento devendo ser evitada.


  • Fontes Bibliográficas:
- HARRISON – Medicina Interna 17ª edição: 2006
- Riella, Miguel Carlos - Princípios da nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos - 5 ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
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